Ana Maria Carvalho

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Tal como uma receita mágica, quando Ana Maria, Tati e Lê me pediram para criar a capa e o encarte deste disco, aceitei o desafio que sabia ser possível apenas junto de profunda submersão sonora e espiritual nesse projeto. As sessões de fotografias em shows, no estúdio e em casa, para além do registro imagético, foram muito mais proveitosas para a concepção sensorial do universo de Ana Maria, para a percepção desse tradicionalismo todo de sua exorbitante cultura, que entre versos, cantos, danças e bordados, se apresentava, cheia de vida e alegria.

Se a arte da capa e de todo o encarte fosse tomada pelo que representa, o cd seria todo leve e macio, quente e com cheirinho de roupa de lã esquecida na cadeira da varanda por toda uma tarde ensolarada. Os bordados feitos pelas mãos de Ana Maria esboçam no encarte uma paisagem verde claro sob um quente céu amarelo, tudo muito bem aquecido por um sol de lã alaranjado. AnaMaria transborda alegria com o sol dourando sua bela pele negra em uma simbiose iluminada, quente, inspiradora e cheia de graça em louvor à vida.

Aceitei de bom grado que a razão fosse guiada pela emoção e o resultado acredito ter chegado próximo da admiração que tenho pelo trabalho de todos os que compõem a trama deste bordado. Na contracapa, as mãos de alguns deles, os músicos, cada um com seu instrumento, ilustram o cuidado do trabalho manual da cultura tradicional tão bem articulada nas composições e arranjos deste disco. Emociono-me sempre que escuto. E sempre que escuto meus olhos se fecham. Procurei ilustrar tais sentimentos. De olhos fechados, imersos de Ana Maria o que vemos? O que sentimos?

De olhos fechados potencializamos o louvor ao mundo, somos só e somos tudo, a pele arrepia e a espinha se aquece.

Deixemo-nos levar, sintamo-nos acolhidos por este trabalho tão delicioso. Bailemos ao som dessa música tão inspiradora e emotiva.

Que ela nos traga muita luz, paz e força pelos nossos caminhos.

Agradeço Ana Maria, Tati, Lê e Alice.

Pela Bia, pelo Théo, Por mim e pelo meu povo!

(Bruno Franques, para a faixa de audio-guia do CD)

Proposta ao Fórum Permanente dos Movimentos Sociais de Sorocaba e Região

Resumo

  • Apresentação do antagonismo da Cúpula dos Povos ante a Rio+20, contextualização do processo do Fórum Social Mundial seu estratégico desdobramento em Fóruns Locais e a proposta do Fórum Social Sorocaba, a ser realizado em 9 de junho de 2012, no Parque dos Espanhóis.
  • Convite para oficialização de apoio e participação na organização do Fórum Social Sorocaba e recomendação aos Movimentos Sociais componentes que integrem também o grupo de entidades que apóiam a realização do Fórum Social Sorocaba
  • Convite para assessorar a constituição de Comissão Técnica que receba as demandas geradas pelos movimentos sociais, cidadãos e cidadãs organizados em torno do Fórum Social Sorocaba.

Com o intuito de nos aproximar deste Fórum Permanente que já articula com tanta competência os Movimentos Sociais de Sorocaba e Região e por considerar que as direções e os caminhos traçados por este coletivo têm objetivos e estratégias bastante similares com as nossas, formulamos uma apresentação introdutória a partir da qual indicamos alguns percursos que possivelmente podemos traçar juntos. Acreditamos que a articulação de nossos esforços possibilitará que tenhamos mais êxitos em nossa árdua tarefa de construir alternativas ao devastador sistema hegemônico em que vivemos.

Trata-se de um breve panorama escrito a partir do que foi apresentado oralmente na V reunião deste Fórum, ocorrida no dia 14/04/2012, no Núcleo ETC UFSCar.

A exposição trata do processo do Fórum Social Mundial e seus recentes desdobramentos em Fóruns Locais mundo afora, identificando os precedentes que nos impulsionam à articulação do Fórum Social Sorocaba. Paralelamente, apontaremos a intensificação da crise ambiental como um grande tema aglutinador capaz de fomentar a articulação de movimentos sociais militantes em diferentes áreas, identificando ainda a Rio+20 como palco de um dos maiores golpes contra a humanidade, proferido pelos que articulam a hegemonia do capital.

Ao traçar um breve panorama sobre o processo do Fórum Social Mundial  sublinhamos sua clara contraposição ao neoliberalismo e seu principal espaço de articulação internacional, o Fórum Econômico Mundial, que acontece anualmente em Davos, nos Alpes Suíços. Enquanto os poucos políticos e empresários que se encontram às portas fechadas em um resort definem – a partir de seus interesses individuais, da lógica da exploração e do lucro -, os rumos que imporão à política planetária, no encontro de Porto Alegre o debate é dialógico, autogestionado, aberto à participação e busca respeitar a diversidade de povos, movimentos, opiniões e posições ideológicas. Os movimentos sociais do mundo inteiro que participam desse novo espaço de articulação tem em comum a clara identificação do atual sistema hegemônico, o capitalismo neoliberal, como a causa que empurra a humanidade e o planeta ao abismo e contra a qual unimos nossas forças.

Na Carta de Princípios do Fórum Social Mundial, há uma série de diretrizes, que dizem respeito principalmente manutenção do Fórum como espaço de articulação da sociedade civil, aberto, múltiplo, diverso, horizontal, internacional e permanente. Vale a pena uma leitura atenta, pois se trata de um legítimo manifesto à diversidade e à construção de um novo mundo.

Esta apresentação, apesar de ser construída como uma continuação do discurso de tantos outros que articulam também este processo, e que nos trouxeram até aqui, é, no entanto, de minha responsabilidade. Pode parecer banal, mas é sempre bom frisar que o Fórum é apenas um espaço, não se tratando de um movimento, muito menos de uma entidade institucionalizada. Assim, ninguém fala pelo Fórum, como também ninguém o representa. Não temos líderes nem diretores. O Fórum Social Mundial, e os Fóruns Locais que buscam se aproximar dos cidadãos e cidadãs e das questões mais práticas e locais da vida em sociedade, são espaços de articulação, processo e instrumento da mudança que os cidadãos e cidadãs implementarão no mundo.

Para introduzir o contexto do processo que deu origem ao Fórum Social Mundial, indico o trailer do filme “A  Batalha de Seattle”. Trata-se de uma representação ficcional sobre as manifestações que bloquearam as negociações que o grupo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), pretendia realizar para legitimar uma espécie de Constituição Mundial do Capital e que iria impor aos países legislando sobre as relações internacionais de todos.

O sucesso dos protestos nas ruas de Seattle mostrou ao mundo a força que os movimentos sociais podem ter quando atuam em sintonia. Os próximos encontros internacionais organizados pela cúpula da Organização Mundial do Comércio, conhecidos como Fórum Econômico Mundial aconteceriam em Davos, nos Alpes Suíços, garantindo a restrição do acesso e impossibilitando que novos protestos atrapalhassem seus acordos totalitários.

Em contraposição à esta organização piramidal do mundo neoliberal, diante da conjuntura que se estabeleceu, a criação de um Fórum Social Mundial nos moldes acima descritos parece-nos hoje a evolução natural da articulação da sociedade civil face ao tipo de globalização que é imposto ao mundo. Oded Grajew e Chico Whitaker foram os ativistas que formularam a idéia original do Fórum e que abriram sua construção para toda a sociedade, convidando os movimentos sociais a assumirem a articulação do espaço público que seria criado. Indico a leitura de “O desafio do Fórum Social Mundial: Um modo de ver”, ótimo livro em que Chico Whitaker relata o processo de nascimento do FSM até 2005.

Apesar de ter se estabelecido Porto Alegre como a cidade-sede do FSM, sua internacionalização foi assegurada pela decisão de se intercalar encontros centralizados na capital gaúcha com encontros descentralizados pelos 5 continentes. Dessa estratégia, resultaram iniciativas que preenchem o calendário com etapas preparatórias onde se estabeleceram Fóruns Regionais regulares. África, Palestina, Europa e América Latina  são palco destes encontros com desdobramentos em espaços ainda mais localizados, articulando os temas e experiências do FSM em etapas que reunem movimentos sociais, coletivos e entidades atuantes diretamente em determinadas cidades e seus arredores.

Essas articulações, a princípio articuladas espontaneamente ou consideradas como etapas preparatórias do encontro centralizado foram ganhando importância na medida em que a articulação local mostrou-se tão necessária quanto à experiência internacional. É o famoso adágio da globalização, pensar global e agir local, que se volta contra o próprio sistema que o criou.

Durante o percurso, outro fator indica para a mesma direção. O exponencial sucesso do FSM atrai números cada vez mais vultuosos de participantes, e o encontro que iniciou como uma articulação entre movimentos, coletivos e entidades, rapidamente passou a configurar um espaço em que se reúnem tanto os que já atuam de maneira organizada quanto os que estão iniciando seu envolvimento com o processo de mudança da ordem vigente.

Aos poucos os participantes do FSM começaram a perceber que mesmo com a entrada de novos atores e com as etapas regionais estabelecidas, sua atuação ainda estava circunscrita aos que já estão convencidos da opressão em voga.

O componente que faltava se apresentou quando surge em 2011 explosões populares organizadas de maneira rápida e horizontal, integrando muitos indivíduos que ainda não atuavam nos movimentos sociais, coletivos ou entidades não governamentais. A Primavera Árabe no Norte da África, o 15M e os Indignados na Espanha, o Occupy Wall Street nos EUA, o Ocupa Sampa em São Paulo, os Annonymous no mundo todo, entre outros não nomeados na Palestina, em Israel, na Grécia e no Chile ocuparam praças do mundo todo mostrando sua indignação com a ordem vigente, reivindicando democracias reais e radicais, derrubando governos e interferindo nos rumos da história. O discurso de Manuel Castells aos acampados de Barcelona, a fala de Slavoj Zizek aos de Wall Street e o título “Occupy: Movimentos de protesto que tomaram as ruas”compilação recém-lançada pela Boitempo, contextualizam muito bem tal efervescência das praças de 2011.

A partir do compartilhamento destas experiências com o contato que pudemos estabelecer durante o Fórum Social Temático no início de 2012 com muitos dos protagonizaram a citada efervescência social do ano anterior, confirmamos e ampliamos as diretrizes que indicam a criação de Fóruns Locais com vistas à proporcionar a integração dos movimentos, coletivos e entidades aos cidadãos e cidadãs indignados. Os debates vão além e tanto os movimentos das praças passam a incorporar as diretrizes do FSM como os Fóruns Locais começam a se estabelecer em praças, focados na população do entorno. Chico Whitaker tem um belo texto a respeito.

Assim chegamos em São Paulo, onde realizamos o primeiro Fórum Social de São Paulo em 2011 e agora em Sorocaba, com sua versão local já agendada para o dia 09 de junho de 2012. Tanto em São Paulo quanto em Sorocaba, pretendemos articular, depois do primeiro encontro, outros tantos menores, focados em regiões da cidade e nas cidades do entorno. Juntos também articulamos a formação de uma Rede de Fóruns Locais e inscreveremos  através da rede algumas atividades na Cúpula dos Povos, que acontecerá de 15 a 23 de junho, no Rio de Janeiro.

Para situarmos a importância da crise ambiental para os Movimentos Sociais contemporâneos, destacamos em Seattle, o protagonismo dos movimentos ambientais que desde a Eco92 já se articulavam internacionalmente em torno das urgentes questões impostas à humanidade pela degradação do Planeta. O Fórum Social Mundial surge como espaço que já se sentia necessário para que os diversos movimentos dialogassem e programassem suas ações internacionais com mais força e cooperação à luz dos ambientalistas.

A Conferência da ONU pelo Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, está sendo encarada pelos movimentos sociais como mais uma investida daqueles que se consideram os donos do mundo contra os movimentos que questionam sua forma de atuação. Dessa vez a força desses que atuam em prol de menos de 1% da população do mundo vem potencializada pelo que Pablo Sólon classificou como “O Golpe do Século”.  Para substituir a violência bruta gerada pelas decisões totalitárias, deixam de lado os conselhos de Maquiavel e passam a atuar sob a forma de dominação que Gramsci, na década de 1930, já identificava como muito mais eficiente, justamente por exercer o controle a partir da sedução e cooptação, deixando as armas em segundo plano. Assim, identificando as sutilezas da dominação hegemônica, percebemos mais claramente como os dirigentes econômicos do mundo assumem a roupagem verde como uma máscara à seus cifrões e sob a sloganização da suposta sustentabilidade da economia verde revigoram a mercantilização dos recursos naturais mantendo seu caráter dominador e opressivo.

É diante desse quadro desolador que a sociedade civil se organiza e se levanta para mostrar sua indignação. O processo do Fórum Social Mundial deste ano de 2012 deu lugar à um Fórum Social Temático: “Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental”, onde a sociedade civil se articulou sobre como se posicionar frente às imposições da Rio+20. Os movimentos participantes do Fórum integram também a Cúpula dos Povos, que se contrapõe à Rio+20 da mesma maneira que o Fórum Social Mundial se contrapõe ao Fórum Econômico Mundial.

É importante chamar a atenção para esta contraposição para que fique muito clara a distinção entre os dois eventos que acontecerão simultaneamente no Rio de Janeiro entre 15 e 22 de junho. De um lado, uma organização horizontal, da sociedade civil, que proporcionará um debate aberto, dialógico, em prol da justiça social e ambiental. De outro, à portas fechadas, figurões de ternos caros posam para uma foto história assinando mais uma vez promessas que não pretendem cumprir e acordos que mercantilizarão ainda mais a vida e o planeta.

O tema do 1º Fórum Social Sorocaba será “Rumo à Cúpula dos Povos” e os facilitadores estimularão as atividades para que se desenvolvam em torno dos temas que a Cúpula traz a tona. O Fórum Social Sorocaba já adianta uma tendência dos movimentos e é também o representante local do Comitê Paulista Rumo à Rio+20, organização da sociedade civil que organiza os debates da etapa preparatória da Cúpula dos Povos no âmbito estadual. Adianta porque o Comitê Paulista Rumo à Rio+20 e o Fórum Social São Paulo ensaiam sua integração para depois do encontro do Rio, mas ambos já reconhecem suas similaridades e a necessidade da integração. Tanto que realizarão em São Paulo, provavelmente no Ibirapuera, um grande encontro pré-Cúpula dos Povos.               

Em todo o texto acima há links que direcionam os interessados em mais informações sobre esses temas tão importantes que foram aqui tratados de tão brevemente. No site FórumSocialSorocaba.org.br é possível entrar em contato com outros textos, mídias e links que proporcionam outras perspectivas sobre tais assuntos.

Estamos montando uma lista de entidades e movimentos sociais que apóiam a realização do Fórum Social Sorocaba. Caso acredite na fundamental importância que esta iniciativa aconteça, por favor, envie um e-mail com o nome da entidade apoiadora para o e-mailforumsocialsorocaba@gmail.com

Em breve disponibilizaremos em nosso site um formulário para que as entidades, coletivos e movimentos sociais possam cadastrar as atividades que pretendem articular durante o Fórum Social Sorocaba.

Na aba “Participe” estão disponíveis informações sobre as diversas formas possíveis de participar da construção de um novo mundo a partir de nossa cidade! Visite-nos, opine, venha, dialogue, participe!

Em “Agenda”, a programação de nossas atividades e encontros já está disponível! São todos abertos e esperamos contar com sua presença.

Termino com uma frase do povo aborígine Norte Americano Hope, citado por Zizek em seu “Primeiro como tragédia, depois como farsa“:

“Nós somos aqueles por quem estávamos esperando”

Forte abraço! Paz, força e união.

Bruno Franques

Mimicalado Show

Mimicalado Show no Parque da Água Branca em fevereiro de 2011
Fotografias por Bruno Franques

Fotografias de Celular